Canção da despedida (Geraldo Azevedo/Geraldo Vandré)
Já vou embora, mas sei que vou voltar
Amor não chora, se eu volto é pra ficar
Amor não chora, que a hora é de deixar
O amor de agora, pra sempre ele ficar
Eu quis ficar aqui, mas não podia
O meu caminho a ti, não conduzia
Um rei mal coroado,
Não queria
O amor em seu reinado
Pois sabia
Não ia ser amado
Amor não chora, eu volto um dia
O rei velho e cansado já morria
Perdido em seu reinado
Sem Maria
Quando eu me despedia
No meu canto lhe dizia
Nova versão da canção do exílio se daria por Taiguara, no meado da
década de 1970. Em seu disco “Imyra Tayra Ipy”, ele radicaliza na
experimentação e na denúncia do estado de coisas, bem como aprofunda sua
compreensão sobre o ser latino-americano. O disco seria peremptoriamente
proibido, alijando nosso povo de um dos documentos mais expressivos de nossa
uma crítica a ditadura coberta por uma fina capa de romance que conta a história de separação de um casal de amantes. A música versa a respeito de um “rei mau”,na época o então presidente Costa e Silva, que “não queria o amor em seu reinado, pois sabia não ia ser amado”. O trecho citado faz referência ao momento de instituição do AI-5, em que a ditadura militar já começava a perder folego, pois as manifestações estudantis estavam conseguindo reduzir consideravelmente o apoio da classe média ao governo militar. Na música o amante que vai embora forçadamente: “eu quis ficar aqui, mas não podia” pede para quem fica: “não chora”, explicando que “a hora é de deixar” mas deixa esperança de retorno: “pois sei que vou voltar... Se volto é pra ficar”. A canção de pronto foi barrada pelos censores e ficou anos até poder ser gravadaO eu-lírico anuncia sua despedida do seu amor, anunciando, todavia, seu futuro retorno. Afirma não poder ficar tendo em vista que um Rei mal coroado (que vem a ser, obviamente o governo militar) não deseja o amor em seu reinado.
No entanto, ao mesmo tempo em que se despede, anuncia a morte do "rei" velho e cansado, ao mesmo tempo em que anuncia a permanência do amor de hoje.
Obviamente, a música foi censurada. Numa entrevista para o site (www.abarriguda.org.br), Geraldo Azevedo conta:
"Eu fui censurado várias vezes, teve uma canção minha que foi censurada até a ditadura acabar, que foi uma musica que eu fiz com Geraldo Vandré, a Canção da Despedida, foi muito censurada, insistimos, cheguei a colocá-la muitas vezes com nomes diferentes, mas não passava não!"
Geraldo Vandré, todavia, numa entrevista a Ricardo Anísio em 2004, afirmou:
"RA - Mas o Geraldo Azevedo também tem uma estória. Você disse que ele nunca foi seu parceiro em "Canção da Despedida". Confirma isso?
GV - Claro que confirmo. Eu nunca tive parceiro nessa canção, a escrevi sozinho e ela está gravada no disco que fiz na França ("Das Terras de Bemvirá) mas quando foi lançado no Brasil veio sem essa faixa, não sei porquê, se foi por censura ou algo que o valha. A verdade é que depois que a marca Vandré virou um mito monstruoso apareceram parcerias que eu nunca fiz".
O fato é que em 16 de julho de 1973 Vandré retornara ao Brasil. Ficara incomunicável nos quartéis do exército. Ao sair, disse que sua canção teria sido injustamente apropriada por grupos políticos e que dali para a frente só faria canções de 'amor e paz'.
cultura.